Nordeste passa a exportar energia para o Sudeste
A crise da água no Sudeste trouxe um marco simbólico para o setor
elétrico do Nordeste, que este mês deixou a condição histórica de
importador de energia de outras áreas do País para exportar
eletricidade. Desde o início de agosto a região já enviou, em três dias
diferentes, energia para ajudar a socorrer a chamada caixa d’água do
País, o Sudeste, onde a população e as hidrelétricas sofrem sem chuvas. A
ajuda é pequena, mas surpreende especialistas pelo significado
histórico e por ser motivo de alerta. O socorro vem do acionamento
máximo das usinas térmicas, caras, poluentes e principais responsáveis
pelo arrocho no preço da energia que já começa a pipocar no País – e que
vai pesar em Pernambuco do ano que vem até 2017.
Dados do Operador Nacional do Sistema
(ONS), responsável por coordenar o funcionamento de usinas e linhas de
transmissão do Brasil inteiro, mostram que as térmicas do Nordeste
bateram novo recorde no último sábado, ao produzir 4.589
megawatts-médios de energia. Foi mais da metade do necessário para a
região, em época de chuvas e consumo baixo de energia.
Durante todo o fim de semana, bem como
no último dia 2, a região gerou um pequeno excedente, de 2% de sua
produção, e enviou para o Sudeste por linhas de transmissão. No Brasil, o
sistema elétrico é interligado e permite a troca de energia entre
regiões.
Por ter base não na tradicional energia
hidrelétrica, limpa e mais barata, e sim na térmica, a exportação de
eletricidade preocupa. “Isso não é bom. É péssimo para o Nordeste e para
o Brasil”, explica Conceição Cavalcanti, consultora em Regulação e
Comercialização da C&T Assessoria e Gestão de Energia. “O Nordeste
aumentou ao máximo a geração térmica para manter equilibrado o sistema
elétrico nacional. Isso encarece ainda mais o custo da energia”,
comenta.
As térmicas geram eletricidade com a
queima de gás ou óleo e podem ser ligadas a qualquer momento. Assim,
elas se multiplicaram após o racionamento de 2001, causado justamente
pela falta de chuvas, para dar segurança ao País. Mas são poluentes e
caras e viraram um “seguro-apagão”, uma reserva. Desde setembro de 2012,
contudo, a seca que afeta o Nordeste e o Sudeste motivou o uso regular
das usinas.
“A situação hídrica difícil não é do
Sudeste ou Nordeste. É do Brasil inteiro”, afirma José Antônio Feijó, do
Instituto Ilumina. Ele diz não lembrar de o Nordeste já ter exportado
energia. “É um fato bastante inusitado”, comenta.
Jornal do Commercio
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