Agressão verbal na infância pode doer mais do que palmada

Palavras ofensivas podem doer mais que uma agressão física e ter consequências psicológicas mais graves para uma criança.

Essa é a conclusão de uma pesquisa feita com dez mil adultos de todo o Brasil que contaram histórias de abuso emocional sofridas na infância.

“Ela me chamava de prostituta, falava que eu não prestava, que eu tinha que morrer, porque ela não me aguentava mais”, conta uma mulher.

As ofensas eram feitas pela mãe dela.

“Eu sofria muito quando ela me falava tudo isso, e eu me sentia muito pra baixo”.

Quando a menina tinha 14 anos, a Justiça tirou a guarda da família biológica. Ela foi adotada. Conheceu o carinho, encontrou o amor.


Fantástico: Quando esses pais te puxam a orelha, eles fazem como?
“Eles sentam comigo e conversam e falam: ‘Isso está errado. Então vamos tentar mudar isso’”, responde.

Agora, ela resolveu escrever um livro para contar o que viveu.

“Eu acho que muita gente vai ler a história e vai ver que eu superei e que elas também podem superar”, diz a jovem.

Existe uma lei que pune humilhações e ameaças feitas a uma criança. É a mesma lei que trata de agressões físicas e que ficou conhecida apenas por "Lei da Palmada", como se as agressões verbais fossem um problema menor. Mas não são. E, às vezes, têm consequências mais graves do que a palmada.

A afirmação é de pesquisadores da PUC do Rio Grande do Sul, que entrevistaram dez mil adultos de todo o Brasil.

Para fazer o estudo, os psiquiatras criaram essa página na internet. Nela, o participante preenche um cadastro anônimo e responde a uma série de perguntas sobre experiências de vida. Em troca, ganha um perfil de personalidade. Já os pesquisadores usam essas informações para comparar relatos de maus tratos físicos e emocionais na infância com características atuais do temperamento dos participantes.

Lembranças de palavras ofensivas e de negligência emocional reduzem em até 30% a autoestima e o otimismo. Aumentam em 20% a impulsividade. Apenas 10% dos que sofreram com ofensas se consideram emocionalmente saudáveis.

“O pior tipo de trauma que uma criança pode passar é o abuso emocional. Ofensas, humilhações e hostilidade verbal. Porque, eu diria assim, a dor do coração não passa”, explica o psiquiatra Diogo Lara, coordenador da pesquisa.

“Eu diria que talvez eu possa desculpar, mas que infelizmente eu não vou esquecer”, diz um homem. Aos 35 anos, este homem ainda sofre com o que ouvia na casa do pai, que hoje, depois de uma terapia familiar, reconhece o erro.

“Eram agressões no sentido de humilhar e ofender e diminuir ele”, lembra o pai.

“Me chamou várias vezes alegando peculiaridades físicas, me chamou de podridão. Ele era muito maior do que eu fisicamente, então não me sobrava muito essa alternativa, senão me resignar”.

Segundo a pesquisa, 60% dos brasileiros já sofreram abuso emocional. A psiquiatra Cláudia Szobot, terapeuta do Instituto da Família, confirma: em muitas famílias, os adultos repetem com os filhos as agressões verbais que viveram na infância.

“Aquelas figuras cuidadoras de amor, que deveriam ser cuidadoras, deram pra ela essa mensagem. Que está bem xingar, que pode ser estúpido, que pode desqualificar o outro e muitas vezes a criança cresce achando que isso é normal, que é assim mesmo”, diz a psiquiatra.

E quando o pai percebe que se excedeu. O que ele pode fazer?

“Ele pode pedir desculpas para a criança. Que ele não quis dizer aquilo, ele estava fora de si, isso também mostra pra criança a humildade, que as pessoas podem errar”, aconselha Diogo.

O que tem hoje na família que não tinha antes?

“Não tinha carinho, não tinha amor, não tinha afeto, não tinha cuidado e hoje tem tudo isso,” conta a jovem.

E você quer mostrar isso para os outros

Sim, eu quero mostrar como eu sou feliz. Eu amo eles muito”, explica a mulher.

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